- Não existem portas e no entanto, eis-nos. Um passe de mágica! Acreditas em magia?
- Gosto de ver, mas acreditar... acho que não, nunca pensei nisso.
- Em que é que tu pensas?
- Na minha mulher e nos meus filhos...
- Ah que enjoo... vamos, desenvolve, mais, mais!
- No meu emprego...
- Sim, mais, mais!
- No Martins, no que ele faz mal e no que eu faço bem...
- Vocês não fazíam a mesma coisa?
- Sim, quero dizer, não, eu tenho mais responsabilidades...
- Sério?
- Bem, quer dizer, a mim dão-me sempre trabalhos mais difíceis, sabem da minha competência
- E da dele, não sabem? É isso que me estás a dizer?
- Sim, não, o que quero dizer é que eu sou mais capacitado
- Para quê? Mais capacitado para quê? Para o Martins ser promovido? Para trazeres trabalho para casa porque não foste capaz de o fazer no escritório? Que andaste a fazer nas horas de trabalho?
- Eu? a trabalhar!
- De certeza?
- Sim, sim, de certeza!
- Então porque não tinhas o trabalho acabado quando te deu o ataque?
- Eu, não sei... estou a sentir-me mal, por favor, acho que me vai dar outra vez...
- Isso é impossível, meu caro. Nunca mais te dará coisíssima nenhuma, garanto.